Cícero Dias

1907 – 2003

No começo, Cicero Dias produz principalmente aquarelas, nas quais representa um universo de sonhos, inquietante. Os personagens, em escala diferente das paisagens, e também os objetos, apresentam muita leveza, frequentemente flutuam. São imagens que evocam o mundo do inconsciente, nas quais o erotismo é frequente. Estas são representadas com grande delicadeza no desenho e em uma gama cromática muito rica.

Em 1937, é preso no Recife quando da decretação do Estado Novo, por sua simpatia pelo Partido Comunista. Perseguido pelo regime e incentivado pelo pintor Di Cavalcanti (1897-1976), Cicero Dias viaja para Paris, onde passa a ter contato com pintores franceses como Georges Braque (1882-1963), Fernand Léger (1881-1955) e Henri Matisse (1869-1954), e torna-se amigo do pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973). Apesar da mudança, o tema e a técnica de seus quadros continuam ligados a Pernambuco: o artista mantém a luz e a cor de suas paisagens, como em Mulher na Janela (1939).

Retorna à França em 1945 e integra o grupo abstrato Espace, da Escola de Paris, até 1950. Pinta, em 1948, os primeiros murais abstratos da América Latina, para o então  Conselho Econômico do Estado de Pernambuco (depois chamado de Secretaria da Fazenda), no Recife. Neles, aproveita, como sempre, elementos da paisagem do Nordeste: canavial, jangadas, o vermelho dos telhados, mas submetendo-os a um processo do qual resultam formas simples e ricas de sugestões poéticas.

Após 1950, predominam os quadros abstratos, em que se destacam as formas fechadas, retangulares ou tendendo à circularidade, e a preocupação com a luz e as cores claras, em uma gama cromática evocativa da natureza nordestina. 

Volta com maior intensidade à pintura figurativa na década de 1960. Permanecem em seus quadros o clima de sonho e os elementos recorrentes: mulheres, casarios, folhagens, e é constante a presença do mar. Usa frequentemente tons de rosa e azul.

Cícero Dias explora diferentes vertentes em sua produção, influenciando e se deixando influenciar pelas vivências que tem ao longo de sua carreira. Nesse caminho, o artista corre o mundo sem deixar para trás suas origens, construindo uma obra diversificada e autoral.

Fonte: Itaú Cultural

plugins premium WordPress