Mira Schendel

1919 –1988

Muda-se para Milão, na Itália, na década de 1930, onde estuda arte e filosofia. Abandona os estudos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Estabelece-se em Roma em 1946 e, em 1949, obtém permissão para se mudar para o Brasil. 

Inicialmente se fixa em Porto Alegre, onde trabalha com design gráfico, escultura de cerâmica, poemas e restauro de imagens barrocas. Realiza retratos e naturezas-mortas de tons escuros, assinando com seu nome de casada, Mirra Hargesheimer. Sua participação na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, permite contato com experiências internacionais e a inserção na cena nacional.

Em 1953, muda-se para São Paulo e adota o sobrenome Schendel. Sua linguagem pictórica se simplifica progressivamente em trabalhos que exploram o tratamento dado à superfície. De 1954 a 1956, realiza pinturas encorpadas em tons geralmente sombrios, como cinza e ocre, de matéria densa e opaca, em têmpera ou óleo sobre madeira ou tela.

A década de 1960 é um período de intensa e variada produção. Nos primeiros anos, dedica-se sobretudo à pintura, misturando técnicas e usando diferentes suportes e materiais, como gesso, cimento, areia e argila. Essas superfícies densas evidenciam o suporte como constituinte ativo da obra. De 1962 a 1964, realiza diversos Bordados, seus primeiros trabalhos com papel japonês, feitos com tinta ecoline, geralmente com desenhos geométricos e cores escuras, mas transparentes, depois retomados na década de 1970.

De 1964 a 1966, produz grande quantidade de desenhos em papel de arroz, conhecidos como Monotipias. Essas obras são feitas a partir do entintamento de uma lâmina de vidro sobre a qual é aplicada uma folha de papel. O traçado de linhas é feito no avesso do papel com a unha ou algum instrumento pontiagudo. Desenhar pelo verso é uma opção conceitual, pois a artista pesquisa assiduamente um meio de se aproximar da transparência.

Em 1968, começa a produzir obras com acrílico, como Objetos gráficos e Toquinhos. Em 1969, realiza na 10ª Bienal Internacional de São Paulo a instalação Ondas paradas de probabilidade, constituída por fios de nylon pendentes do teto ao chão, pendurados em grades quadriculadas. Nesse período, explora as projeções da luz sobre a parede com Transformáveis, pequenas tiras de acrílico transparente articuladas umas às outras, semelhante ao metro dobrável.

Entre 1978 e 1979, produz a série Paisagens de Itatiaia, em têmpera negra sobre papel, com letras aplicadas, mais informais, em que se delineiam montanhas. Para a 16ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1981, produz 12 pequenos trabalhos chamados I Ching.

Em 1987, concebe a série Sarrafos, com têmpera e gesso sobre madeira, a última que chega a concluir. Para o crítico Ronaldo Brito, “muito além de transgredir o limite entre categorias (pintura, relevo, escultura), os Sarrafos exibem uma evidência desconcertante que por si só torna teóricas tais divisões”. Operando sobre a superfície branca do retângulo e a tridimensionalidade da barra de madeira preta que se projeta no espaço, a artista obtém o que o autor qualifica como um “salto à dimensão do corpóreo”4. 

Os elementos que reaparecem constantemente e se desdobram entre uma série e outra costuram as variadas ramificações da obra de Mira Schendel, conferindo coerência às suas questões e tornando inconfundível a sua linguagem.

Fonte: Itaú Cultural

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