Invisíveis
Texto por Carollina Lauriano
A memória é uma ilha de edição -Wally Salomão
A frase de um dos maiores poetas que tivemos, Waly Salomão, vale não apenas para as lembranças daquilo que vivemos, mas também dos mundos internos que criamos, sonhamos e desejamos como possíveis para nossa existência.
Paula Rocha
Ponte
2022
Técnica mista sobre tela
90×130 cm
Quando sonhamos, o sonho é uma espécie de memória de algo que não aconteceu de fato. Depois, quando lembramos deles, os sonhos são uma memória, como qualquer outra, de algo que, sim, aconteceu de fato: o próprio sonho.
Paula Rocha
Armazém 5
2020
Técnica mista sobre tela
110×160 cm
Em um primeiro momento, é nesse aspecto que Paula Rocha estabelece suas criações. Do seu trabalho como restauradora, a artista teve acesso a espaços em ruínas, que careciam de um trabalho minucioso para serem reconstituídos. Dessas memórias que Paula guardou, entre o antes e o depois, surgem suas pinturas que, por si só, são uma tentativa de reconstituir esses espaços.
Armazém no Rio de Janeiro
Recorrendo a elementos que nos remetem a essas construções arquitetônicas, Paula enfatiza em sua pintura a criação de um abrigo para as imagens, cuja escolha é orientada pela memória e pelo afeto.
Paula Rocha
Óculo
2022
Técnica mista sobre tela
120×90 cm
Suas ruínas e paisagens incompletas parecem vestígio e encenação de um mundo que foi deslocado para outro lugar; um mundo que já não há. Este processo de escavação da tela, com sua espessa camada de tinta, e de sepultamento/exumação da imagem, também implica uma investigação da artista por discutir tais questões de ausência e presença também pela própria fatura da pintura.
Prédio no centro do Rio de Janeiro
As telas de Paula carregam consigo um processo criador público feito de adição de camadas que, interferindo um sobre o outro, sustentam sua textura, marcada pela busca incessante pela “fisicalidade da pintura”, que implica em procedimentos de exploração das “propriedades físicas do quadro” e na “discussão da superfície” da tela.
Desse encontro entre memórias e materialidade, que constitui a interessância do trabalho de Paula.
Paula Rocha
Esquadria
2022
Técnica mista sobre tela
80×120 cm
Se em “Fora da Ordem”, Caetano Veloso cantou que: aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína; em suas pinturas Paula nos faz crer que o inverso pode ser possível. De que às vezes é preciso ruir para que o novo se estabeleça.
Paula Rocha
Armazém 8
2022
Técnica mista sobre tela
Díptico – 120×160 cm (área total)
Entre apagamentos e ausências, sua obra evidencia o encerramento e o reinício de ciclos para essas imagens, fazendo com que nós, espectadores, sejamos ativos nessa troca de trazer nossas memórias a fim de ajudar a artista nesse trabalho de reconstruir a ruína e o caos em novos espaços habitáveis. Dentro e fora.
Paula Rocha
Vão
2022
Técnica mista sobre tela
100×140 cm
Paula Rocha
Paula Rocha é bacharel em pintura pela Escola de Belas Artes (UFRJ), especialista em história da arte (PUC-Rio) e tem MBA em gerenciamento em projetos (FGV).
Atuou por 20 anos na preservação e restauração de bens tombados gerenciando a empresa Arte Cidade Restauro para a salvaguarda de monumentos como o Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, Igreja São de Francisco da Penitência, Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, Coleção Sergio Camargo do Paço Imperial, painel de azulejos de Portinari na Funarte, entre tantos.
Além de artista plástica visual na pintura, é produtora e diretora de arte no audiovisual. Dentre os seus mais recentes trabalhos estão a produção de arte da minissérie “The Angel of Hamburg” (Sony Pictures & Globo Play-2020-21) com a produção de dois livros sobre a obra; a produção de arte da novela “A Dona do Pedaço” (2019) e a direção de Arte e montagem do Show Musical “Repercutindo Zé Ramalho”, com os músicos Jeff Chagas e Robertinho Silva (Teatro Rival – 2019).
Membro desde 2002 do ICOM – CC (International Council of Museums, Committee for Conservation – Paris, France).
Exposições individuais:
2018 – “Espaços Invisíveis” na Galeria Modernistas (Santa Tereza – RJ)
Exposições coletivas:
1987 – Concurso Rogério Steinberg de Pintura – Fundação Parques e Jardins – RJ
1991 – Coletiva na Galeria Montez y Quintela – Barra da Tijuca – RJ
1992 – “Qual a matéria dos sonhos? “ – Paula Rocha e Cyriaco Lopes – Espaço EBA 7 – UFRJ
1994 – Coletiva “Formandos da Escola de Belas Artes” – Museu Nacional de Belas Artes – RJ
2021 – Bela Bienal Europeia e Latino Americana de Arte Contemporânea – Espaço Cultural Correios
Salões:
1995 – XXI Salão de Arte Jovem de Santos – 1o Lugar, Prêmio viagem a New York e Aquisição
1996 – Salão de Arte de Ribeirão Preto – 1o Lugar na categoria de Pintura, Prêmio Fri-Ribe
Premiações:
1995 – 1o Lugar Salão de Arte Jovem de Santos
1996 – 1o Lugar na categoria de Pintura no Salão de Arte de Ribeirão Preto
2018 – Prêmio Melhor Produção de Arte ESTUDIOS GLOBO 2018 pelo programa “Os melhores Anos das Nossas Vidas”