RESGATE 1: IVAN FREITAS

Esta exposição, “Resgate 1”, é o primeiro de uma serie de resgates a serem feitos pela Galeria RVB de grandes artistas que hoje se encontram à margem do circuito cultural brasileiro.

 

Paraibano, natural de João Pessoa, Ivan Freitas desde cedo revelou seu talento. Autodidata, trabalhou como artista gráfico e suas primeiras telas remetem à arte metafísica de Giorgio de Chirico. Em 1958 mudou-se para o Rio de Janeiro, recebendo em 1962 uma bolsa de estudos que o levou a Paris. Um ano depois, de volta à capital carioca, integrou-se à cena artística da época, fortemente marcada pelo abstracionismo formal e pelo neoconcretismo. Sua produção nesse período filia-se à essa vertente, sem perder, entretanto, a afinidade com o inusitado, característica que permeará toda a sua obra, mesmo a mais construtiva. Entre 1969 e 1972 o artista reside nos Estados Unidos, e, no retorno ao Brasil seu trabalho parece mais filiado à Pop-Art, numa volta à figuração permeada pelo construtivismo.

Nessa resiliência do inusitado, nessa capacidade do artista de criar uma aura de estranheza tanto numa forma rigidamente geométrica, quanto numa paisagem solar, reside a força e a originalidade do trabalho de Ivan Freitas. 

Paisagem, 1994.

Óleo sobre tela.

140 x 160 cm.

Ele fará, ao longo de toda a sua produção, essa conciliação de propostas opostas. Suas pinturas e objetos cinéticos são banhados por uma aura metafísica, enquanto que suas paisagens, iluminadas e coloridas, são perturbadas pela agudeza da geometria. São oximoros, essas figuras de linguagem em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão. Música silenciosa, obscura claridade – nada mais Ivan Freitas do que essas expressões.

Sem título, 1978.

Caixa cinética.

47 x 56 x 11 cm.

Usina Azul II, 1979.

Óleo sobre chapa.

85 x 100 cm.

Entre as estratégias adotadas pelo artista  para obter esses resultados estão a perfeição técnica da sua pintura, que beira o hiper-realismo – utilizado de forma sábia e contida. E o domínio da luz, que Freitas conhece profundamente, sabendo orquestrar de forma sutil, ou escancarada, as suas incidências e refrações, abrangendo tanto a luz solar, quanto a artificial.

Sem título, 1978.

Técnica mista sobre eucatex.

85 x 100 cm.

Em sua longa e significativa trajetória no circuito de arte brasileiro, Ivan Freitas participou da histórica mostra Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo, quatro edições do Panorama da Arte Atual Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo, realizando ainda várias exposições individuais em galerias no Brasil, Estados Unidos e Europa. Seu painel Paisagem Urbana, pintado no Rio, em 1984, no muro contíguo à Escola de Música, era emocionante. 

Sem título, 1980.

Óleo sobre eucatex.

100 x 120 cm.

Quem o viu nunca esquecerá, pois, como escreveu o poeta Affonso Romano de Sant’Anna, ele fazia “a nossa pedestre alma urbana começar a levitar”.

Denise Mattar

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